Riquelme – o craque mimado e injustiçado

Postado por Caio Monteiro

Riquelme sem dúvidas foi um dos melhores jogadores argentinos que vi jogar, se não fosse o Messi, diria que foi o melhor. Muito se fala do jeito enjoado e de poucos amigos dele, e talvez isso tenha sido o principal obstáculo enfrentado por Riquelme em sua carreira, que poderia ter sido ainda mais grandiosa do que foi. Ao mesmo tempo em que podemos classificá-lo como marrento, também devemos lembrar que em alguns momentos a falta de segurança também foi um empecilho para este argentino.

Sem dúvidas, algumas das jogadas mais brilhantes e dos dribles mais humilhantes que vi no futebol, foram realizados por ele. Seu jeito de jogar lento e despretensioso e a forma como conduzia suas jogadas com tamanha naturalidade, fazendo com que quem assistisse tivesse a impressão que tudo era tão fácil, encantava qualquer admirador do bom futebol. Talvez alguns torcedores e jogadores dos times adversários não tivessem este sentimento de admiração, mas alguns torcedores (eu, por exemplo), mesmo torcendo contra, admiravam o futebol do argentino.

Riquelme iniciou a carreira no Argentino Juniors e logo foi transferido para o Boca, onde ganho destaque, tendo grandes atuações, conquistando a América e o mundo. Chegou a ser chamado para seleção algumas vezes, mas acabou ficando de fora da Copa do Mundo de 2002, e tem gente que até hoje fala mal do Bielsa por isso.

Ainda em 2002, após o grande sucesso no Boca, onde até então tinha ganhado títulos três nacionais, duas libertadores e um mundial, Riquelme foi para o Barcelona, para assumir o papel de astro principal do time, mas lá, acabou não se entendendo muito bem com o técnico Louis Van Gaal, e fez uma temporada decepcionante, marcando apenas três gols em 30 jogos. Com isso, Riquelme perdeu espaço no clube e com a chegada de novos contratados, o argentino acabou sendo emprestado para o Villarreal, onde ele voltou a ter um papel de grande destaque.

No time espanhol, Riquelme mesmo não conquistando títulos de grande expressão, fez o modesto Villa desfilar entre os principais times da Europa, chegando perto de algumas conquistas. O principal feito dele, foi conduzir o Villarreal a uma semifinal da Uefa Champions League (UCL), feito este, que poderia ter sido ainda maior, se Riquelme não tivesse perdido um pênalti perto do fim do jogo, que naquele momento se fosse convertido, levaria o jogo para prorrogação, mas ele perdeu e seu time viu ir embora a chance de conquistar a vaga na final da UCL. E ai, mais uma vez sobraram críticas para o argentino, mais poucos lembram que se não fosse ele, seu time nem ali, disputando uma semifinal de UCL estaria.

Na seleção, Riquelme passou a ter grande destaque após a copa de 2002, onde ele começou a ter mais oportunidades até conquistar o papel de principal craque do time. Mais aí também vieram as principais críticas em cima dele, resultado das carências de títulos da seleção Argentina, das derrotas seguidas para o maior rival e por que os torcedores tinham que escolher alguém para colocar a culpa. A seleção brasileira que talvez deu ao Riquelme um dois dos seus maiores dias de glória com a Alviceleste, também foi um fator chave para que um caminhão de críticas caíssem sobre Juan.

Glórias de Juan contra a seleção brasileira: A primeira grande glória foi na melhor exibição da Argentina contra o Brasil nos últimos tempos. Neste jogo a seleção Alviceleste começou em um ritmo frenético e comandada por Riquelme, logo abriu 2x0 de frente no placar, e no final do primeiro tempo o resultado era de e 3x0, com direito a golaço do Argentino. No segundo tempo, a Argentina tirou o pé e o Brasil diminuiu para 3x1. Outro grande momento foi na vitória sobre a seleção olímpica do Brasil em Pequim, onde a Argentina venceu por 3x0, fora o baile. Entretanto, o Brasil castigou muito mais do que foi castigado. Parece uma vingança para alguns torcedores de times do nosso país, que viram Riquelme destruir os times brasileiros que o Boca pegou pela frente nas competições sul-americanas.

Em 1999 veio a primeira derrota para o Brasil. Neste jogo a Argentina saiu na frente mas viu o Brasil virar o jogo com gols de Rivaldo e Ronaldo. De 1999 a 2004 Brasil e Argentina se enfrentaram outras vezes mais não lembro se o argentino estava presente. Em 2005, teve a grande exibição da Argentina contra o Brasil comandado por Juan, mais logo o troco veio com juros e correção. Em sequência, Argentina e Brasil se encontraram na final da copa das Confederações, Riquelme chegou a final da competição disputando além do título, a artilharia e o prêmio de melhor jogador da competição. Entretanto, o argentino viu seu time levar uma goleada e Adriano acabou ficando com as premiações individuais. Cena marcante foi quando Riquelme deixava o campo com seu troféu de bola de prata nas mãos, cena que marcou a derrota do time argentino.

Neste momento, a falta de títulos pesou, e alguns argentinos jogaram a culpa nele, sendo que Riquelme praticamente carregou aquela seleção. Logo após a Copa do Mundo, Brasil e Argentina começavam um novo caminho e logo de cara foi marcado um amistoso entre as duas seleções. Riquelme tinha o papel de comandar a nova geração de craques argentinos, mas acabou jogando muito mal e viu sua seleção ser goleada novamente pelo maior rival. Após este jogo, chateado com as críticas e com o sofrimento de sua mãe, Riquelme anunciou que não jogaria mais pela seleção.

Só que Riquelme acabaria voltando atrás, depois da campanha brilhante com o Boca na libertadores e a vitória humilhante sobre o Grêmio, a torcida e o técnico pediram e Riquelme voltou a seleção para disputa da Copa América. Nesta competição, o argentino foi o verdadeiro maestro de sua seleção e a conduziu até a final (dando show). No entanto, mais uma vez a Argentina perdeu de goleada para o maior rival, e sobraram críticas para Riquelme, principalmente de torcedores de outros clubes argentinos, que muitas vezes, criticavam movidos pela raiva de quando seus clubes também forma vítimas do Boca de Riquelme. Simpatia nunca foi seu forte, e isto também aumentava os números de críticas sobre sua pessoa.

Riquelme ainda continuou atuando mais um tempo pela seleção pelas eliminatórias da Copa, até se desentender com o técnico Maradona. Dizem que também existia uma briga de ego entre ele e o Messi, novo queridinho da torcida. Com isso, Riquelme anunciou novamente que não jogaria mais pela seleção.

Este texto se concentra mais no retrospecto do Riquelme pela seleção, do que por clubes, afinal quero defender as injustiças sofridas por este grande jogador sofreu quando defendeu sua seleção. Por clubes ele tem uma história para lá de vencedora e longe de ser alvo de criticas. Talvez este seja um grande jogador que vai ficar marcado por não levar a sua seleção a títulos, mas dentro de sua geração ele é o que menos tem culpa.

Nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2006, Riquelme foi o vice artilheiro da Argentina marcando três gols, ficando atrás apenas do Crespo que marcou 7. Na Copa das Confederações de 2005, Riquelme foi o segundo melhor jogador da competição, foi o vice artilheiro da Argentina marcando 3 gols. Na Copa do Mundo de 2006, apesar de não ter marcado gols, fez uma boa copa servindo bem seus companheiros.

Depois da Copa de 2006, Riquelme logo se desligou da seleção após a derrota do Brasil, voltando em 2007, onde foi vice da Copa América, perdendo para o Brasil novamente, mas com certeza ele foi o melhor jogador argentino da competição e o segundo melhor do torneio. Riquelme foi o protagonista daquela seleção, conduziu o meio campo com estilo, armou a maioria das jogadas que resultaram em gols e ainda foi o vice artilheiro da competição. E na final ele foi o jogador que mais buscou jogo pelo lado argentino, obrigando por duas vezes o Doni fazer belas defesas, sem falar de uma bola na trave.

Nas eliminatórias para copa de 2010, Riquelme junto com Aguero e Messi foi o artilheiro da Argentina (marcou 4 gols). Detalhe é que ele só jogou os primeiros jogos, e ficou de fora de boa parte de competição, e na minha opinião, se ele não tivesse deixado a seleção, a Argentina não passaria por tanto aperto para se classificar. Antes de sair da seleção, Riquelme escolhido com um dos jogadores acima da idade olímpica, foi peça chave no time sub-23 da Argentina que derrotou o Brasil no caminho e na final contra a Nigéria, conquistou a medalha de ouro.

Riquelme pode não ter levado a Argentina a títulos, mais com ele esta possibilidade aumenta, e os números mostram que Riquelme e um dos que menos merecem carregar alguma culpa pela falta de títulos da Argentina. Talvez pela seleção, faltou ele ser um pouco mais presente em momentos decisivos, mas se ele não foi, os outros foram menos ainda. Por isso, acho que ele foi injustiçado, e fico feliz por não ter que ver ele na seleção adversária e triste por não ver seu futebol em uma Copa do Mundo. Riquelme poderia ter chegado ao nível de um Zidane da vida, futebol na minha opinião ele tinha.

Alguns dos lances mais belos que vi no futebol foram proporcionados por este argentino. Pena que nunca atuou em um time no qual eu fosse torcedor, mais foi responsável por quase comprar uma camisa da seleção Alviceleste.

Verdade seja dita, ele também é bem mimado, e aí daquele que não fizesse todas as suas vontades!

Grande Riquelme!